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sábado, 7 de março de 2015

Delicadeza Divina

Dos infindáveis atributos do criador, há um que merece destaque: sua delicadeza.


Na alegoria bíblica da criação, após criar o universo inteiro e do pó da terra o homem, Deus sentiu a sutil necessidade de presentear sua criatura com um jardim. O que é um jardim, senão a morada da beleza com suas cores estampadas na relva, nas árvores e nas flores. Presentear alguém que se ama com uma flor, um ramalhete já é algo encantador, agora, presentear com um jardim inteiro, isso é algo de extrema sensibilidade, é arrebatador...

Até quando o criador se revoltou contra sua criação, lançando um grande dilúvio, no final prevaleceu sua delicadeza, pois desenhou no céu um arco colorido, um arco-íris, como símbolo da aliança de não mais repetir seu capricho com águas.

Quem há de duvidar que ainda hoje o criador esteja disposto a fazer alianças ou criar muitos jardins por aí dentro e fora das pessoas?

Clarice Lispector, no livro 'Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres', descreve a sensação que era tomada a personagem Lóri, ao sentir algo sublime quando andando pela rua e o vento brincalhão lhe soprava nos cabelos as folhas das árvores, levando ela a render-se a chamar o instante de "O milagre das folhas". Ela completa: “Um dia uma folha que caíra batera-lhe nos cílios. Achou então Deus de uma grande delicadeza.”

A delicadeza de Deus está por toda parte, revelada não só na natureza, mas na beleza refletida nas artes, músicas e pinturas. Basta olhar os jardins de Monet, com aquela paisagem de textura suave, quase transparente com toques de leveza que faz alguém diante de um livro de arte retratando suas telas quase sentir o cheiro das roseiras, macieiras, azaleias, íris, framboesas, dálias, hortênsias e tulipas, sem precisar ir até Giverny a pouco mais de uma hora de Paris.

Falta ao homem dito moderno render-se a esses instantes de contemplação da delicadeza divina. Talvez a explicação para isso esteja no que o filósofo Francis Bacon (séc. XVII), considerado o pai da modernidade, escreveu no final do 2º livro do 'Novum Organum': “Pelo pecado o homem perdeu a inocência e o domínio das criaturas. Ambas as perdas podem ser reparadas, mesmo que em parte, ainda nesta vida: a primeira com a fé, a segunda com as artes e a ciência.”

O caminho da vida é tão efêmero que muitos passam por ele sem se dar conta da grandeza que é a delicadeza divina. Cegam-se com a correria diária, sob pretexto da racionalidade dita moderna de só olhar o céu através de lunetas, perdendo a vista mais ampla da paisagem. Por isso, para sentir a delicadeza do criador, recomendo se render aos versos do roqueiro Herbert Vianna: “O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu.”

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo seu dia, doce Madeline.

Que a delicadeza continue sendo para você uma segunda pele, que tão bem veste e deixa mais bonitas todas as mulheres.

Um abraço!

Madeline disse...

Querido Moacir, é um prazer tê-lo aqui. Seus textos são sensacionais!
Obrigada pela visita e pelas felicitações.
Um abraço

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