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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

E só

Eu estava pronta para meu encontro com o livro, faltava apenas o chá, respeitaria o sono, assim que ele chegasse. 
Aqueci a água, coloquei o chá e ao invés de me acomodar debaixo do cobertor, fiquei parada na sala de jantar, observando a mesa de café ainda posta. De súbito, notei a presença de um familiar que puxou a cadeira, sentando-se ao meu lado. Continuei olhando além, segurando a xícara com as duas mãos, observando as folhas do chá dissolvendo-se em água quente. Ele falava sobre amores, sobre o que havia feito no último natal e contava sobre as pessoas com quem convive. Dei-me conta que eu bebia o chá tão intimamente comigo, que não estava presente à mesa. Consciente, perguntei se ele queria um chá, esperando a resposta negativa, de quem não bebe chá, de quem nasceu remediado, másculo, infrangível. 
-Chá? É chá de quê?
-Camomila. Quer?
-Ah. Se "Cê" estivesse falado antes, eu não teria bebido o café. Café me faz mal...
-Quer que eu faça o chá?
-Ah, mas... Mas você já está bebendo e, não teria mais. Tem?
-Sim, é só aquecer a água. E aprontei-me para preparar o chá. Ele me segurou pelo braço:
-Não precisa, pensei que estava pronto.
-Ah! Capaz! Eu faço "num" minuto, espera aí.
Enquanto aquecia a água, ele continuava as divagações verbais, das quais eu não compreendia. Não compreendia porque em um momento intimista, eu divagava em meus pensamentos distantes.
-Você bebe chá com açúcar ou sem... Ou... adoçante?
-Açúcar, por favor.
-Lavei o açucareiro hoje, por isso deixei o açúcar neste prato...
E por entre tilintadas, notei que ele observava curioso o movimento do sachê...
-É bom esse chá, né?
-Eu gosto, mas bebo sem açúcar... Ó, compra lá para você... É baratinho e  acalma, você sabia que camomila acalma?
-É - e me olhou curioso, por entre a xícara de chá- esse é bom mesmo!

Não sei em que momento a sensibilidade se fez presente, mas ela me tocou profundo na alma. A minha xícara dizia: "Love around", a dele era azul de céu noturno... lá fora chovia muito e meu coração estava na chuva, aquecido, guardado... Enquanto no ar ecoavam assuntos engraçados, dos quais eu não me recordo... Love around e só.

Mariana Zogbi

domingo, 7 de fevereiro de 2016

"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam." 
Clarice Lispector

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