Sua rotina era assim resumida:
Rua, asfalto, tintas e limões
Bem cedo se levantava
Antes mesmo que o sol despertasse no alto
Ele descia as ruelas do morro
E caminhava rumo ao asfalto
Tintas e cores
Maquiavam suas dores
Pintava o negro rosto
E o menino triste
Como por mágica
Um palhaço feliz se tornava
Menino malabarista
Com a face colorida
Garoto equilibrista
Era mesmo um artista
Quando o sinal enrubescia
Ele entrava em cena
Pulava, dançava e cantava
Seus limões no céu rodopiavam
Oferecia sua arte
Em troca recebia moedas-sorrisos
Indiferença, frieza
Desdém em toda parte
As moedas lhe compravam o leite de cada dia
E por isso ele prosseguia
E essa era sua rotina: rua, asfalto, tintas e limões
Sonhos roubados, desilusões
Um dia aquele sinal perdeu a sua graça
Onde estava o menino palhaço?
Sai no jornal do dia seguinte:
“Morre menino no asfalto
Vítima de bala perdida
Há indícios de que o menor era envolvido com o tráfico de drogas”
Menino malabarista
Com a face colorida
Garoto equilibrista
Era mesmo um artista
Ofereceu sua arte
Em troca recebeu tiros, suspeitas,
infâmias, mentiras
Sangue por toda a parte
Era uma vez um menino
Era uma vez um palhaço...
Liliane Balonecker
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